sexta-feira, 31 de março de 2023

women talking / a voz das mulheres

 

[ fenomenal ]

título original. women talking.

género. drama.
duração. 1h 44min
ano.
 2022

realização e argumento. sarah polley.

protagonistas. claire foy. rooney mara. jessie buckley. ben wishaw. judith ivey. kate hallett. sheila mccarthy. michelle mcleod. frances mcdormand.

sinopse.
em 2010, um grupo de mulheres de uma comunidade ultra-conservadora tenta conciliar a sua fé com as agressões sexuais cometidas pelos homens da comunidade
. [imdb]
 
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a voz das mulheres esteve nomeado para melhor filme e melhor argumento adaptado nos óscares 2023.

arrecadou o segundo, tendo o argumento sido adaptado do romance homónimo de miriam toews, publicado em 2018.

a história é baseada em eventos ocorridos numa comunidade menonita, isolada e ultra-conservadora, e passa-se em 2010, mas podia passar-se na idade média, tendo em conta o ambiente e mentalidade. o filme auto-descreve-se como um acto de imaginação feminina.


fonte: image search engine

na maneira como a comunidade está organizada, são os homens que detêm todos os privilégios que pode haver num modo de vida tão austero.

as raparigas e mulheres não têm direito à educação - são analfabetas e refugiam-se na fé.

assim, quando várias delas acordam cobertas de sangue e hematomas, há rumores de que é obra de um demónio ou um castigo divino. até se descobrir que os agressores são homens da comunidade, os próprios familiares e vizinhos das vítimas... e a forma como o fazem é sinistra.

as autoridades intervêm e os homens vão à cidade para pagar a fiança dos acusados.


fonte: image search engine

as mulheres têm pouco tempo para decidir o que vão fazer. começam por aprender a votar, com três opções em cima da mesa: 1) não fazerem nada; 2) ficarem e lutar; ou 3) abandonarem a comunidade.

como não sabem ler nem escrever, pedem ao professor da comunidade, um homem calmo e gentil – e o único homem que ficou para trás - para transcrever a acta da discussão

fonte: image search engine

num palheiro, com vista para os campos, fala-se de violência, de corpos maltratados, de gravidezes e de fé. uma das mulheres está grávida; e afirma amar já a criança que carrega, independentemente do pai. outra delas não esconde a revolta nem a raiva. uma terceira tem dificuldades em aceitar as suas escolhas.

a câmara de sarah polley sai do palheiro (às vezes), e mostra-nos crianças alegres, a correr e a brincar, oferecendo uma pausa dos momentos tensos entre as mulheres, mas regressa sempre àquele, à discussão difícil que leva a acusações, choros, desabafos e a momentos de ternura e união
.

fonte: image search engine

há profundidade nas ideias que são discutidas: a natureza do perdão, a condição feminina, como manter a fé quando os seus representantes são corruptos, a maternidade.

é um filme inspirador, muito bem escrito e o elenco principal é fantástico.

é uma fita extremamente envolvente e dramática, com um excelente ritmo. algo surpreendente para um filme passado num palheiro onde meia dúzia de personagens discutem e esgrimem argumentos.

a voz das mulheres é um filme que toca fundo, que perturba e fica connosco muito depois de o vermos. a ver e a rever.


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. we didn't talk about our bodies. so when something like this happened there was no language for it. and without language for it, there was a gaping silence. and in that gaping silence was the real horror .
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domingo, 19 de março de 2023

triangle of sadness / triângulo da tristeza

 

[ bom ]

título original. triangle of sadness.

género. drama. comédia.
duração. 2h 27min
ano.
 2022

realização e argumento. ruben östlund.

protagonistas. harris dickinson. charlbi dean. woody harrelson. dolly de leon. vicki berlin. zlatko buric. henrik dorsin. arvin kananian.

sinopse.
um casal de modelos é convidado para um cruzeiro luxuoso com passageiros bilionários
. [imdb]
 
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triângulo da tristeza venceu a palma de ouro em cannes o ano passado, como o quadrado / the square (2017) anos antes. ruben östlund passou, assim, a integrar o pequeno grupo de realizadores que venceram duas palmas de ouro.

o filme foi ainda nomeado para os óscares 2023 - melhor filme, realizador e argumento original – mas não vingou.
 
(o título refere-se à zona entre as sobrancelhas, muitas vezes preenchida com botox pela "beautiful people".)

fonte: image search engine

os modelos e influencers carl (harris dickinson) e yaya (charlbi dean) são convidados para fazer um cruzeiro luxuoso na companhia de vários multiilionários, entre os quais um oligarca russo e um traficante de armas.

durante o jantar do comandante (woody harrelson), uma tempestade começa e os passageiros sofrem um enjoo colectivo.

o cruzeiro termina de uma forma catastrófica e vários passageiros e funcionários vêem-se encalhados numa ilha deserta.

a hierarquia sofre uma reviravolta…


fonte: image search engine

triângulo da tristeza fala sobretudo sobre dinheiro e privilégio, sendo abrasivo no seu catálogo de clichés e piadas, com sequências provocadoras, delirantes e até repugnantes.

todo o filme é caracterizado pelo humor ácido e por comportamentos humanos inesperados, explorados em cenas que retratam o poder económico e a inversão de papéis. 

fonte: image search engine

östlund não é subtil na sua caricatura grotesca e, dentro de uma sátira que ri dos ricos e da sua arrogância, da postura artificial do mundo da moda, do significado do dinheiro, dos papéis hierárquicos tradicionais, do matriarcado e do patriarcado, nada é poupado ao olhar hiperbólico do realizador.

fonte: image search engine

eu apreciei os comentários robustos sobre injustiça social e superficialidade, mas acho que faltou alguma subtileza.

o filme é muito divertido nas duas primeiras partes, mas a terceira (na ilha deserta) funciona menos bem. 

é pena, mas isso, e os problemas de ritmo, impedem o triângulo de tristeza de ser um filme excelente.


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. i'm not obsessed with money .
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quinta-feira, 9 de março de 2023

gritos 6

 

[ bom ]

título original. scream 6.

género. terror. thriller.
duração. 2h 3min
ano.
 2023

realização. matt bettinelli-olpin. tyler gillett.
argumento. james vanderbilt. guy busick.

protagonistas. courteney cox. jenna ortega. melissa barrera. dermot mulroney. hayden panettiere. mason gooding. jasmin savoy brown. liana liberato. henry czerny.
sinopse. os sobreviventes deixaram woodsboro para começar uma nova vida em nova iorque. as coisas parecem estar a correr bem... até ghostface reaparecer para os assombrar mais uma vez. [imdb]
 
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gritos 6 é o sexto filme da franquia, iniciada com gritos em 1996, então pela batuta de wes craven, falecido em 2015.

desta feita, e depois do sucesso de gritos (2022), volta ao comando a companhia produtora conhecida por radio silence.

o cenário é nova iorque, substituindo a fictícia cidade de woodsboro.


Fonte: Image Search Engine

os quatro sobreviventes do último filme, autodenominados “core four”, querem começar de novo: as irmãs tara e sam carpenter, e os gémeos chad e mindy meeks-martin, ao que se juntam novos amigos e namorados. o quarteto ainda está a processar o trauma do confronto com os últimos ghostface e sam, em particular, sente-se ferozmente protetora da irmã mais nova, que deseja, com igual ferocidade, ter uma vida normal.

(pela primeira vez, nos 27 anos da franquia, neve campbell não volta como sidney prescott.)


Fonte: Image Search Engine

a franquia vingou por subverter os estereótipos dos filmes de terror recorrendo a uma dose (inteligente) de humor negro. gritos 6 não é diferente nesse aspecto e goza ainda mais consigo mesmo, admitindo ser parte de uma franquia que procura um novo fôlego.

mas incluir uns diálogos no filme que faz exatamente isso – uma alusão aos maus hábitos das franquias de terror, incluindo a série fictícia “stab”, um filme-dentro-de-um-filme que serve como substituto para aquele que se está a ver - não iliba os criadores de gritos 6 de acusações de preguiça e de reciclagem de fórmulas antigas, levando alguns fãs (eu incluída) a questionar se a franquia esgotou o filão.


Fonte: Image Search Engine

por exemplo, o monólogo habitual da geek de cinema de serviço, mindy, apesar de eficaz, é redundante e menos impactante que o do filme de 2022.

a reter: neste tipo de “sequela-reboot”, tudo é maior, mais violento e ninguém está seguro (protagonistas actuais e dos filmes anteriores incluídos).

a provar isto, há mais mortes e o próprio “core four” é mais atacado e agredido do que nunca. percebemos que não há forma de saber quem sobreviverá. o próprio ghostface é mais letal e longe vão os tempos em que escorregava em escadas ou levava com portas na cara – o ghostface de serviço está furioso e mais sanguinário do que nunca.

a violência é a triplicar e o sangue jorra das múltiplas agressões filmadas de perto pelas câmaras, sem deixar nada à imaginação.

 
Fonte: Image Search Engine
 

isso fortalece o filme no que toca à tensão, com a cena passada no metro (e que aparece parcialmente no trailer do filme) a criar uma sensação real de claustrofobia, assim como a cena passada no apartamento das carpenter.

os temas são diversos: legados culturais, franquias eternas e fãs fanáticos (toxic fandom), mas nada de verdadeiramente novo. o mesmo quanto à identidade do assassino, algo já visto.

 
Fonte: Image Search Engine

gritos 6 começa muito bem e de forma inovadora mas a qualidade não se mantém até ao fim, onde descamba. na minha opinião, não há um gritos verdadeiramente mau, mas este não é dos melhores, e é inferior ao antecessor de 2022.

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. i had this secret. there's a darkness inside of me, it followed me here. and it's going to keep coming for us .
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