domingo, 22 de março de 2015

complexo - universo paralelo

[ bom ]

género. documentário.
duração. 80 min
ano.
 2011

realização. mário patrocínio.

sinopse. como se (sobre)vive na favela mais perigosa do rio de janeiro? [imdb]
 
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no rio de janeiro, a 13 km do imponente cristo redentor, dois portugueses aventuraram-se na mais temida favela do Brasil, onde moram mais de 300 mil pessoas: o complexo do alemão.

em 2007, no período de maior tensão e violência no rio de janeiro, os cineastas testemunharam a maior operação policial já realizada no estado e sentiram na pele como é a vida de um morador comum, vivendo ali três anos. complexo - universo paralelo é o retrato do que viram.


pela câmara passam as histórias e os rostos de pessoas reais, algumas das quais ficamos a saber, no fim do documentário, se sobreviveram ou não à violência e pobreza em que vivem.

dona célia trabalha de manhã à noite para sustentar os filhos, que alimenta com arroz, batatas e ovos, um privilégio que não teve durante muitos anos. crente em deus, dona célia parece bem mais velha do que é e agarra-se à fé e ao poder da oração para aguentar o duro quotidiano; fala para a câmara enquanto cozinha, varre a casa ou limpa um quintal cimentado de escoamento limitado e limpeza dúbia.




aliás, todos os espaços no complexo têm um aspecto que acusa uma limpeza duvidosa, onde os habitantes convivem paredes meias com ratos e lixo. enquanto alguns moradores são asseados, outros não, e todos pagam pelo desleixo.

é neste contexto que conhecemos "seu" zé, um dos moradores mais antigos, que paga do seu bolso as poucas melhorias que se vêem na zona onde mora (cimentando, furando, escoando). este morador fala sem papas na língua da cobardia do poder político mas admite que parte do problema é também da mentalidade dos moradores, que se acostumaram a viver como cidadãos de segunda.


pelo meio, ouvimos ainda o testemunho de traficantes e de outros moradores do complexo, entre discursos mais ou menos coerentes e cenas mais ou menos chocantes, como a presença de polícias com metralhadoras a cada esquina, homens mascarados (traficantes) com metralhadoras passeando à noite pelo complexo e uma ausência de respeito pelas regras de trânsito (as pessoas têm de atravessar a passadeira a correr mesmo quando está verde para os peões porque os carros não páram) e por algumas regras de higiene, despejando baldes na rua e deixando o lixo a céu aberto.


há algumas cenas choque pontuadas por uma ou duas de grande humanidade, mas depende sempre da perspectiva do espectador. eu esperava mais do documentário, mas compreendo o ponto de vista adoptado e o resultado final foi bom, embora claramente polido e trabalhado.

o documentário foi seleccionado para o festival do rio de janeiro e apresentado fora de competição no doclisboa 2010, tendo vencido o prémio 'direitos humanos' no artivist film festival, em Los Angeles.

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domingo, 1 de março de 2015

em parte incerta

[ bom ]

título original. gone girl.

género. drama. thriller.
duração. 149 min
ano.
 2014

realização. david fincher.
argumento. gillian flynn.

protagonistas. rosamund pike. ben affleck. neil patrick harris. carrie coon. tyler perry.
sinopse. no quinto aniversário de casamento, nick dunne avisa a polícia que a esposa desapareceu. sob a pressão dos jornalistas, o retrato da união feliz dos dois começa a desmoronar-se. rapidamente, as mentiras e os enganos postos a nu fazem com que todos questionem: será que nick matou a mulher? [imdb]
 
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em parte incerta é o primeiro livro de gillian flynn a ser adaptado, sendo que os restantes dois, lugares escuros e objectos cortantes já estão em pós-produção para cinema e televisão (mini-série). o maior êxito dos três livros, este em parte incerta foi aquele que menos gostei. é um bom livro que resultou num bom filme, mas as outras duas obras são, para mim, mais sinistras e assustadoras.


com um bom elenco e david fincher ao comando, não havia forma de termos um mau filme. ao longo de duas horas e meia, assistimos aos acontecimentos ligados ao desaparecimento de amy dunne, uma mulher extremamente inteligente e bem sucedida cujo casamento começa a descarrilar à medida que se esgotam a novidade e o romantismo e o marido é visto a uma luz cada vez mais realista.

no quinto ano de casados, amy desaparece misteriosamente. à medida que o caso apaixona a opinião pública e os jornalistas investigam o passado do casal, nick parece cada vez menos um bom marido e não demora a tornar-se o suspeito mais óbvio.



quando o diário de amy é encontrado, revela o estado do seu casamento: o inicial tom sonhador de amy dá lugar a uma voz medrosa e insegura, de uma mulher que teme pela vida e que já não confia do marido. ao mesmo tempo, nick tenta provar a sua inocência, mas todas as provas o contradizem, ao ponto de ter de contratar um advogado famoso por resolver "causas impossíveis".


como no livro, acção divide-se em capítulos contados pelo casal: os dele após o desaparecimento dela e os dela antes de desaparecer; nick foca-se nos interrogatórios, na organização popular para promover buscas por amy e em convencer as pessoas de que não é um assassino, e amy foca-se na sua vida, na sua carreira e na relação com nick, antes e durante o casamento.

fincher tem tempo suficiente de filme para ilustrar as cenas mais importantes da história (o livro de flynn tem mais de 500 páginas) e desde o início que somos envolvidos num ambiente retorcido e obscuro onde o realizador é mestre. porém, as falhas do livro mantêm-se no filme (ou não fosse a autora a argumentista): um final questionável e algumas pontas soltas que não fazem um "embrulho" convincente.


rosamund pike foi justamente nomeada pela sua interpretação e fincher tem filmes de se lhe tirar o chapéu (fight club e se7en), mas este filme não é o melhor dele.

estou bem mais interessada em ver as outras duas adaptações porque achei os livros superiores a este. em parte incerta, longe de ser mau,
não ultrapassa o best-seller em que se baseia (sobrevalorizado, na minha opinião), mas consegue transmitir o sentimento de inquietação original e é um thriller competente, o que vindo de david fincher desilude um pouco.

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. when i think of my wife, i always think of the back of her head. i picture cracking her lovely skull, unspooling her brain, trying to get answers. the primal questions of a marriage: what are you thinking? how are you feeling? what have we done to each other? what will we do ?
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