género. documentário.
duração. 80 min
ano. 2011
realização. mário patrocínio.
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no rio de janeiro, a 13 km do imponente cristo redentor, dois portugueses aventuraram-se na mais temida favela do Brasil, onde moram mais de 300 mil pessoas: o complexo do alemão.
em 2007, no período de maior tensão e violência no rio de janeiro, os cineastas testemunharam a maior operação policial já realizada no estado e sentiram na pele como é a vida de um morador comum, vivendo ali três anos. complexo - universo paralelo é o retrato do que viram.
pela câmara passam as histórias e os rostos de pessoas reais, algumas das quais ficamos a saber, no fim do documentário, se sobreviveram ou não à violência e pobreza em que vivem.
dona célia trabalha de manhã à noite para sustentar os filhos, que alimenta com arroz, batatas e ovos, um privilégio que não teve durante muitos anos. crente em deus, dona célia parece bem mais velha do que é e agarra-se à fé e ao poder da oração para aguentar o duro quotidiano; fala para a câmara enquanto cozinha, varre a casa ou limpa um quintal cimentado de escoamento limitado e limpeza dúbia.
aliás, todos os espaços no complexo têm um aspecto que acusa uma limpeza duvidosa, onde os habitantes convivem paredes meias com ratos e lixo. enquanto alguns moradores são asseados, outros não, e todos pagam pelo desleixo.
é neste contexto que conhecemos "seu" zé, um dos moradores mais antigos, que paga do seu bolso as poucas melhorias que se vêem na zona onde mora (cimentando, furando, escoando). este morador fala sem papas na língua da cobardia do poder político mas admite que parte do problema é também da mentalidade dos moradores, que se acostumaram a viver como cidadãos de segunda.
pelo meio, ouvimos ainda o testemunho de traficantes e de outros moradores do complexo, entre discursos mais ou menos coerentes e cenas mais ou menos chocantes, como a presença de polícias com metralhadoras a cada esquina, homens mascarados (traficantes) com metralhadoras passeando à noite pelo complexo e uma ausência de respeito pelas regras de trânsito (as pessoas têm de atravessar a passadeira a correr mesmo quando está verde para os peões porque os carros não páram) e por algumas regras de higiene, despejando baldes na rua e deixando o lixo a céu aberto.
há algumas cenas choque pontuadas por uma ou duas de grande humanidade, mas depende sempre da perspectiva do espectador. eu esperava mais do documentário, mas compreendo o ponto de vista adoptado e o resultado final foi bom, embora claramente polido e trabalhado.
o documentário foi seleccionado para o festival do rio de janeiro e apresentado fora de competição no doclisboa 2010, tendo vencido o prémio 'direitos humanos' no artivist film festival, em Los Angeles.
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