[ fenomenal ]
título original. the substance.
género. mistério. terror.
duração. 2h 21m
ano. 2024
protagonistas. demi moore. margaret qualley. dennis quaid. gore abrams. oscar lesage. robin greer. edward hamilton-clark.
ver este filme é uma experiência inesquecível.
há tanta coisa que enche a retina: as cores vibrantes, a cena do produtor (harvey) a devorar camarão como um porco, as cenas solitárias frente ao espelho, o uso de body horror que alivia a tensão permanente, os close-up de lábios e glúteos carnudos. há tanta coisa, e tudo delicioso!
o tema principal (e mais óbvio) fala-nos do peso da aparência exercido sobre as mulheres, de como a juventude e a beleza são exaltadas e têm de ser mantidas a todo o custo.
se o filme se ficasse “apenas” pelos comentários aos padrões irrealistas de que as mulheres são vítimas – e, por vezes, carrascas -, manifestadas na obsessão com as dietas da moda/silicone/ozempic/botox, e eternizado pelos padrões de hollywood, seria, por si só, um bom filme, com uma mensagem robusta, escrito e realizado por uma cineasta francesa feminista que quis ecoar a sua própria experiência de envelhecimento – o resultado seria um bravo a coralie fargeat!
mas coralie foi além: temos terror corporal, comentário social, humor negro, envelhecimento e decadência, questões de identidade, aceitação, desespero, auto-destruição, ampliados a 200%. isto porque 100% não é claramente suficiente para coralie fargeat, a mente por detrás d’a substância.
a primeira cena, do ovo injectado, explica ao espectador como a substância – de cor radioactiva – funciona. a cena seguinte, a da estrela no passeio da fama, é uma metáfora perfeita sobre a fama e a passagem do tempo.
desde o início,
sentimos piedade de elisabeth sparkle (demi moore, gi jane; ghost; uma questão
de honra) apesar da sua superficialidade e do seu apego à aparência física.
elisabeth está isolada, é o dia do seu aniversário e o
produtor do programa anuncia-lhe que o seu prazo de validade expirou. e já
andam à procura da nova pretty, young thing!
quando sue (margaret qualley, maid; once upon a time in hollywood), a outra parte de elisabeth, ganha a sua própria consciência e decide usurpar a carreira da matriz, começa a tentar prolongar a sua existência, vendo elisabeth como um empecilho à sua vida glamorosa.
o filme é uma maravilha visual e uma forma refrescante de contar uma história com que a maior parte das pessoas se pode identificar, e estou a incluir os homens, também eles sujeitos aos parâmetros sociais de beleza e de masculinidade – “tall, dark and handsome” anyone?
a cinematografia é fantástica, no aspecto artístico e para salientar o extremo. não há aqui subtilezas, nem são bem-vindas. os efeitos visuais? um mimo.
a banda sonora, a cargo de raffertie, é memorável: energética e vibrante.
reconheci algumas referências cinematográficas, entre subtis e directas, a mestres como stanley kubrick, david cronenberg, brian de palma, david lynch e alfred hitchcock.
é um filme visualmente excelente, com um elenco excelso e uma história com imensa substância (!), um pleno invulgar.
em 2024, o filme arrebatou o prémio de “melhor argumento” em cannes, tendo sido ainda nomeado para a “palma de ouro” (melhor filme).
a substância não é um filme
pretensioso, não pretende sê-lo, e talvez isso contribua para a forma muito
profunda como nos toca, tanto nos temas como na violência.
a fita está nomeada para os óscares em várias categorias; demi moore já levou o globo de ouro para melhor actriz. tendo em conta a ausência de alguns excelentes filmes nas nomeações (uma pena…), este é o filme pelo qual estou a torcer.
Imagens: Google Search Images
. what has been used on one side, is lost on the other side. there's no going back .
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