segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

o despertar

[ razoável ]

título original. the awakening.

género. thriller.
duração. 107 min
ano.
2011

realização. nick murphy. 
argumento. nick murphy. stephen volk.
protagonistas. rebecca hall. dominic west. imelda staunton. isaac hempstead wright.
sinopse. uma cientista é chamada para investigar estranhas ocorrências num orfanato de rapazes. [imdb]
 
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inglaterra, 1921. no rescaldo da primeira guerra, as pessoas estão abertas a tudo, incluindo o mundo do sobrenatural. o país agarra-se às suas superstições e a ciência é pouco divulgada.


florence cathcart destaca-se por ser uma mulher instruída e por desmascarar charlatães que organizam "encontros espirituais" entre os sobreviventes e aqueles que já partiram, fingindo aparições e mensagens do além.

a "caça-fantasmas" é contactada por um professor de um orfanato masculino, onde as crianças estão aterrorizadas desde a morte, em circunstâncias estranhas, de um dos colegas. céptica, florence aceita ir, quanto mais não seja para provar que tem razão, mas o que vai encontrar levam-na a questionar tudo o que apregoa.


as cenas passadas desde a chegada de florence ao orfanato são atmosféricas e resultam muito bem, mas o filme vai perdendo interesse (e ambiente) à medida que se aproxima da recta final, tornando-se aborrecido até.
 
a fotografia é arrebatadora e rebecca hall e dominic west têm uma boa química, mas o ambiente gótico soa a falso e o tema já foi explorado antes e feito magistralmente em o orfanato.


o filme não é assustador, mas é um thriller razoável. a cinematografia e o elenco são bons, já a história sabe a pouco; o final é surpreendente e merecia um argumento mais sólido e interessante.

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. without science, people don't believe in nothing; they believe in anything .
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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

carrie (2013)

[ fraco ]

título original. carrie.
género. terror.
duração. 100 min
ano.
2013

realização. kimberly peirce.
argumento. lawrence d cohen. roberto aguirre-sacasa. stephen king (livro).
protagonistas. julianne moore. chloe grace moretz. judy greer. gabriella wilde.
sinopse. o remake da história trágica de carrie, uma jovem com poderes telecinéticos que não socializa com ninguém, protegida em demasia pela mãe religiosa. [imdb]

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passados trinta e sete (!) anos do filme de brian de palma, inspirado no livro homónimo de stephen king, kimberly peirce realiza o remake de carrie, a história de uma jovem educada por uma fanática religiosa que liberta o seu poder telecinético no baile de finalistas. a carrie de brian de palma, com uma peculiar sissy spacek, redefiniu o género e lançou várias carreiras, do realizador e da protagonista ao autor do livro, stephen king.

aquando do filme de 1976, o tema do bullying integrou a ordem do dia e fez repensar a educação religiosa, dando origem a vários artigos e documentários, pondo a nação a discutir a integração dos adolescentes. o tema continua actual e a realizadora teria, neste remake, a oportunidade de relançar o debate, dependendo do impacto do filme.


uma das cenas-chave do filme original perdeu força no remake
este carrie foi uma desilusão, em grande parte devido à forma como carrie white é retratada. 

a actriz chloe moretz tem talento (é um facto) mas a sua carrie fica a milhas da carrie de sissy spacek. nesta, carrie não era uma rapariga gira de cabelo frisado e ressequido, mas tinha uma aparência peculiar e um olhar em constante sobressalto; não era apenas tímida, estava amedrontada o tempo todo, fazendo o máximo por ser invisível. chloe moretz é, desde o início, uma jovem muito bonita que com um pouco de maquilhagem e um brushing poderia passar por uma das raparigas bonitas da escola, o que não combina com a essência de carrie white.

logo aqui, o filme perde força na mensagem porque não cria a empatia que justifica o que se segue.


este remake de 2013 não consegue captar (nem sequer copiar) o impacto das cenas mais fortes do filme de brian de palma, como a cena inicial no balneário e a vingança de carrie white no baile.

ao invés, mostra uma jovem confusa mas gradualmente articulada (mudando num par de dias o que a educação de uma mãe desequilibrada "alimentou" durante uma década e meia), que aprende a controlar a sua habilidade telecinética em tempo recorde, e retrata-o como um anjo vingador com tiques de super-herói quando a sua mente finalmente cede perante a humilhação acumulada, como que desculpabilizando as mortes causadas.



nenhuma ideia, nenhuma cena do filme (excepto a revelação final de sue snell) é acrescentada ou melhorada relativamente ao título de 1976, o que gora em pleno a utilidade deste remake, cujo condão é o de modernizar, sem necessidade, uma história extremamente rica em simbolismo e que vale por si mesma.

o elenco não tem carisma nem traz valor extra, com excepção da talentosa julianna moore, como a fanática margaret white.

um flop, em jeito de chapa na piscina a 100 hm/h, da realizadora do surpreendente os rapazes não choram.

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. the other kids, they think i'm weird. but i don't wanna be, i wanna be normal. i have to try and be a whole person before it's too late .
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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

o nevoeiro

[ bom ]

título original. the fog.

género. terror.
duração. 89 min
ano.
1980

realização. john carpenter. 
argumento. john carpenter. debra hill.
protagonistas. jamie lee curtis. hal holbrook. janet leigh. adrienne barbeau.
sinopse. os habitantes de antonio bay celebram os 100 anos da cidade, desconhecendo que as festividades vão ser interrompidas por entidades sobrenaturais. [imdb]
 
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john carpenter é um mestre do terror com créditos firmados. da sua filmografia, destaco o meu preferido: the thing / veio do outro mundo, uma jóia difícil de superar e que tem envelhecido muito bem (conta mais de trinta anos).

dois anos antes, carpenter lançou este o nevoeiro, uma tentativa bem sucedida do "cá se fazem, cá se pagam". em antonio bay, uma pequena cidade piscatória onde pouco acontece, prepara-se a comemoração do centenário da cidade, que inclui a inauguração de uma estátua de homenagem aos fundadores da cidade.


no mesmo dia, o padre da cidade descobre o diário do seu avô, um dos fundadores, onde descreve o assassinato de um grupo de leprosos que vivia perto de antonio bay e cujo líder possuía uma avantajada fortuna, que foi usada para desenvolver a vila após a sua morte.

100 anos depois, os fantasmas voltam para se vingar e reclamar as vidas dos descendentes dos seis conspiradores, assumindo a forma num nevoeiro sobrenatural que tem vida própria.


desta simples premissa, carpenter fez um filme eficaz, cheio de sobressaltos, que resistiu bem à passagem do tempo. os efeitos especiais são razoáveis e a história bem elaborada.

o filme é extremamente atmosférico e envolvente, com um desenrolar bem trabalhado (todos as pontas do argumento são bem atadas).


a nível de actores, é um prazer rever a talentosa janet leigh, imortalizada no psycho de hitchcock, que neste filme actua ao lado da filha, jamie lee curtis, ambas com personagens secundárias. nos anos 70 e 80, era muito comum ter actores de renome em filmes de terror (o preconceito do terror como um género "menor" é uma moda dos anos 90), bem diferente da realidade actual, onde estão populados de adolescentes e figurinhas lançadas por reality shows.

o nevoeiro é um clássico do terror e de john carpenter, uma pérolazinha dificil de igualar (e o péssimo remake de 2005 comprova-o).

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. sandy, you're the only person i know who can make "yes, ma'am" sound like "screw you".
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domingo, 12 de janeiro de 2014

as virgens suicidas

[ muito bom ]

título original. the virgin suicides.

género. drama.
duração. 97 min
ano.
1999

realização. sofia coppola. 
argumento. sofia coppola. jeffrey eugenides (livro).
protagonistas. james woods. kathleen turner. josh hartnett. kirsten dunst.
sinopse. um grupo de adolescentes desenvolve uma obsessão por uma família vizinha, cujas filhas são protegidas pelos pais. [imdb]
 
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estreado em 1999, as virgens suicidas marcou a estreia de sofia coppola (filha de francis ford coppola) na realização. o filme, baseado no livro de jeffrey eugenides, conta a história trágica das cinco irmãs lisbon.

estamos nos subúrbios americanos, nos anos 70. o casal ronald e sara lisbon são pais religiosos e protectores das filhas: lux, cecilia, mary, therese e bonnie, cinco jovens bonitas e promissoras. os rapazes da vizinhança estão siderados por elas e seguem-lhes os passos, numa tentativa desajeitada de serem notados. são eles os narradores do filme, anos depois dos acontecimentos marcantes: a imagem misteriosa das irmãs persiste, o seu fim ainda algo incompreensível para os jovens, agora adultos.



o filme inicia-se com a tentativa de suicídio de cecilia, a mais nova das lisbon. por ela, e com medo de perder a(s) filha(s), os pais revêem a sua postura austera e tentam integrar as filhas com os jovens da vizinhança, organizando convívios em casa, sob supervisão parental e com ponche não alcoólico. tudo corre bem no iníco, mas as hormonas e a rebeldia típicas da idade fazem com que o receio do professor de matemática e da mulher levem a melhor quando lux faz o que qualquer adolescente faria: não cumpre as regras.


qualquer um de nós já foi um adolescente e é fácil reconhecer a urgência em viver, os tiques comportamentais e o nervosismo em ser aceite. não é difícil perceber estas raparigas, o que as move, o que as faz pulsar. não é tão fácil ver a forma como são contidas (e confinadas) pelos pais e assistir ao seu desfecho.

os lisbon são uma família disfuncional, com um pai socialmente inapto e uma mãe paranóica, que conseguiram gerar cinco filhas luminosas (um mistério a lembrar o triângulo das bermudas) que oprimem ao invés de incentivar, um retrato tão comum quanto arrepiante. são os anos 70, os tempos são de mudança e algumas gerações mais velhas agarram-se ao tradicionalismo bacoco, um extremo desaconselhável.

a fotografia do filme é extasiante
servidos por uma excelente banda sonora (a dupla francesa air foi lançada por este filme) e uma fotografia sublime, vemos as personagens encurraladas pelo medo da condição feminina, um medo agravado pela sua beleza e alimentado pelos pais. o tom sombrio da história é contraposto pela forma cândida e poética das cenas; há uma aura de nostalgia que pontua todo o filme.

uma última nota para o elenco extremamente competente e para duas das actrizes: kirsten dunst (no seu melhor) como lux e hanna hall (que beneficiou imenso com a personagem) como cecilia.

fiquei curiosa em ler o livro de jeffrey eugenides, que, diz quem leu, sofia coppola adaptou magistralmente ao ecrã.

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. we knew the girls were really women in disguise, that they understood love, and even death, and that our job was merely to create the noise that seemed to fascinate them

. we felt the imprisonment of being a girl.

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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

nas nuvens

[ bom ]

título original. up in the air.

género. drama.romance.
duração. 109 min
ano.
2009

realização e argumento. jason reitman.
protagonistas. george clooney. vera farmiga. anna kendrick. sam elliott.
sinopse. ryan bingham é o eterno viajante e habituou-se a um estilo de vida entre aeroportos e hotéis. consegue levar tudo o que necessita num trolley, é membro de todos os programas de fidelização que existem e e está prestes a atingir o seu objectivo de vida: 10 milhões de milhas. porém, ryan tem uma vida vazia. [imdb]
 
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ryan bingham tem uma profissão que lhe permite cruzar os estados unidos quase 300 dias por ano, coleccionando milhas aéreas, estadias em hotéis e cartões de membro vip. a razão por que o faz não é a melhor: ryan é especialista em downsizing corporativo, o que quer dizer que é contratado para despedir funcionários do quadro, convencê-los a aceitar o acordo de despedimento sem alarido e nas condições da entidade empregadora, uma espécie de «veja isto como uma excelente oportunidade» e «agora é que vai começar a viver».

(claro que nem todos vão nisso e é aí que entra o negociador de trato afável e falinhas mansas...)



interpretado por george clooney, ryan cruza o ecrã de sorriso nos lábios, cartão em riste e trolley sempre de arrasto, mas cedo percebemos que é apenas isso que o move - literalmente -, o deslocar-se de um lado para o outro, pois a sua vida é isolada e desapegada de relações. quando o seu posto de trabalho é também ameaçado e novas medidas são aplicadas na empresa, ryan é obrigado a formar uma nova colega e a mostrar-lhe o que, e como, faz.


não é muito antes disso que ryan tem dois pontos de viragem: conhece uma mulher que está na mesma sintonia do que ele e com que mantém a relação possível com tanta viagem, e fica a um par de viagens do seu objectivo de vida: atingir os 10 milhões de milhas aéreas, tornando-se membro de um dos mais exclusivos clubes do mundo.



o filme vive de várias cenas e situações, com tónica nas conversas/negociações de ryan com os futuros desempregados (o ponto alto do filme, para mim), a sua relação física com alex, a dinâmica com a nova colega, cujo novo método de trabalho pode significar o final das suas amadas viagens e uma aproximação à família com o casamento da irmã mais nova, num tom que alterna entre a comédia e o drama, com um elenco carismático e uma química fantástica entre clooney e farmiga.

nas nuvens centra-se num homem que se sente bem no ar, a bordo de um avião, minimizando o que faz porque é o que lhe permite viajar tanto, mas que o torna imune à vida quotidiana comum e o automatiza ao máximo; isso é bem demonstrado. a relação com alex é interessante e confirma vera farmiga como "o talento" do filme, ao mesmo tempo que mostra a versão feminina do protagonista (que, entretanto, evolui para algo diferente).
apesar de interessante e do elenco de qualidade, o final do filme é prematuro, na minha opinião, e não desenvolve tão bem como poderia alguns aspectos. estive para dar a classificação abaixo de bom, mas o elenco e a cinematografia são bem acima de medianos.

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. i thought we signed up for the same thing... i thought our relationship was perfectly clear. you are an escape. you're a break from our normal lives. you're a parenthesis .
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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

v de vingança

[ muito bom ]

título original. v for vendetta.

género. acção.
duração. 132 min
ano.
2005

realização. james mcteigue. 
argumento. andy e lana wachowski.
protagonistas. hugo weaving. natalie portman. rupert graves. john hurt.
sinopse. numa inglaterra futurista, liderada por um tirano, um homem mascarado desencadeia uma revolução quando insta os compatriotas a lutar contra a opressão. [imdb]
 
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baseado no livro homónimo de banda desenhada, de alan moore e david lloyd, v de vingança remete para uma inglaterra futurista (ano de 2020) liderada por um governo opressivo, e conta a história de "v", o mascarado que tudo fez para derrubar o regime instituído.

"v" tem ideiais fortes e faz uso do terrorismo (explosões, esquemas, homicídio) para atingir os seus fins. vestido com roupa preta, uma longa capa e o rosto oculto por uma máscara de guy fawkes, "v" debita a sua ideologia a cada frase que profere, não atentando contra a população em si, mas contra os agentes políticos. uma noite, salva uma jovem do ataque de dois membros da polícia secreta.


penchant para o drama? um pouco, sim...

a jovem, evey, treinada por "v", vai tornar-se uma preciosa aliada, depois de perceber o que move o mascarado e de como o governo vigente, a continuar no poder, mergulhará o país num terror cada vez mais profundo, embrutecendo as pessoas e limitando todo e qualquer direito adquirido.

«this visage, no mere veneer of vanity, is a vestige of the vox populi, now vacant, vanished.»

a essas mesmas pessoas não parece restar outra opção que não obedecer, e conformarem-se com o que é imposto. as tentativas de "v" em despertar a população do seu torpor sucedem-se, ao mesmo tempo que vai minando a política do silêncio e do medo; o grande golpe está previsto para 5 de novembro.


o argumento é um mimo e o livro original, escrito em 1982, continua actual, pois os temas abordados são universais. ainda não li o livro, mas várias são as opiniões que defendem a sua fidelidade à obra de moore e lloyd.

hugo weaving, mesmo por trás de uma máscara de plástico (um símbolo que diz pouco ao folclore português mas muito ao inglês), torna "v" uma personagem magnética e poderosíssima, arrebatando o espectador com o seu discurso subversivo e a ingenuidade de algumas das suas ideias (a sua crença na bondade do ser humano é inspiradora, apesar de extremamente naïve). evey representa o povo, a recusa em acreditar num futuro mais negro mas uma cúmplice do regime, passiva e obediente; ser levada ao limite derruba as últimas reservas que tem contra a ordem imposta.



o filme é sombrio, a mensagem temível. v de vingança não pretende converter o espectador aos ideais de revolta, mas leva-o a pensar nas circunstâncias e em todo o processo que levou ao seu culminar. não imagino quem não possa gostar do filme, pois mesmo despido de toda a estética, fica a mensagem, desconfortável (até demais).

para já, ficou o desconforto e a vontade de ler a banda desenhada.

bom 2014!



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. people should not be afraid of their governments. governments should be afraid of their people

. i remember how the meaning of words began to change. how unfamiliar words like "collateral" and "rendition" became frightening, while things like norsefire and the articles of allegiance became powerful. i remember how "different" became dangerous .
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